Minha primeira viagem de moto

Minha primeira viagem de moto.
Tudo começou com a carta de moto, tirada junto com a de carro, em Presidente Prudente/SP, quando tinha meus 18 para 19 anos. Isso foi lá pelos anos 80. Lembro-me que, na época, como eu fiz a prova com uma DT 180 trail, a carta permitiria pilotar moto de qualquer cilindrada. Deu tudo certo na prova. Eu tinha, então, a carta tipo “A”. Morando em São Paulo capital, fiquei longe do mundo das motos por uma série de motivos.
Foi somente em 2009, já como servidor público federal e morando em Foz do Iguaçu/PR, que pude adquirir minha primeira motocicleta: uma Yamaha 250 Fazer 2008 vermelha, com apenas 770 km rodados, que tenho até hoje.
Desde 2009, tenho utilizado a moto muito mais como meio de transporte no dia-a-dia do que para momentos de lazer. Esse tempo tem sido bastante importante para adquirir experiência de pilotagem numa cidade pequena como Foz do Iguaçu, com seus 250 mil habitantes e trânsito tranqüilo.  Aprendizado que poderia ser bastante complicado se fosse numa grande metrópole, como São Paulo.
Venho, desde então, aos poucos, mantendo contatos com amigos e conhecidos, apreciadores das viagens em duas rodas, que relatam suas experiências com um entusiasmo empolgante. Passei a acessar vários sites de viajantes, como também as revistas especializadas, com especial interesse nos testes, comparativos e moto-turismo. Os artigos, dicas de pilotagem, de preparação para viagens foram sendo digeridos vorazmente e a minha primeira viagem mais longa começava a tomar forma. A comunidade de motociclistas disponibiliza muita informação para os iniciantes como eu, a grande maioria informação de qualidade e confiabilidade. É a prestação de um inestimável serviço à comunidade, do qual eu me servi e que pretendo passar a retribuir e a compartilhar muito em breve.
Uma viagem curtinha de fim de semana (cerca de 130 km ida e volta), eu já havia feito. Foi boa para testar a moto e seus limites.
Minha primeira viagem ocorreu em abril/2012, no meu período de férias de 10 dias. Em janeiro deste ano, após dividir os 30 dias em 3 períodos de 10 dias de férias, distribuídos ao longo do ano, eu havia combinado comigo mesmo e com minha esposa que usaria os 2 primeiros períodos (março e abril) como preparação para os bons concursos públicos que estariam por vir este ano. Pois bem, os editais dos concursos vieram, mas a minha vontade de estudar não. Após 30 anos de trabalho, “joguei a toalha”. Já não tenho mais aquela pegada, aquela determinação e persistência nos estudos, tão necessários para encarar novos concursos e obter aprovação.
A minha primeira viagem foi realizada entre 13 e 16 de abril de 2012. Foi decidida apenas nos dois dias anteriores. Já havia consultado, mas voltei a pesquisar rapidamente na internet quais equipamentos e acessórios eu deveria levar. Como o destino era a casa de minha mãe em Presidente Prudente, interior de São Paulo, pude racionalizar a bagagem e economizar com estadia e alimentação. De Foz até Prudente são cerca de 1200 km, ida e volta, passando por Cascavel e Maringá, basicamente. Numa moto pequena como essa não é aconselhável, e nem há espaço suficiente para levar garupa e bagagem. Assim, minha esposa Helen ficou em casa e fiz a viagem só. Viajar no mês de abril é excelente, pois a temperatura já está mais amena e as chuvas mais raras do que no verão. Pilotei a sexta-feira todinha, dia 13, das 08hs às 19hs. Primeira viagem mais longa, a ansiedade batendo forte. O medo, esse aparente vilão, na medida certa e sob controle, é saudável, pois ajuda a preservar-lhe o bem maior. Na ida, pilotei entre 90 e 110 km/h, velocidade baixa para fazer 600 km somente sob a luz do dia e com todas as paradas necessárias. O resultado é que cheguei ao destino já praticamente noite, o que eu queria evitar. Na preparação, separei a máquina fotográfica, mas esqueci de colocá-la na bagagem. Faltou uma checagem momentos antes de sair e, por isso, não bati fotos na ida. Já na volta, lembrei-me que os aparelhos celulares de hoje tem um monte de funcionalidades, além de fazer ligações. Filmar, ouvir música, rádio, alarme, bluetooth, internet e etc, além de também fotografar (viva!). Como é que eu pude ser tão estúpido a ponto de esquecer que o meu celular poderia ter registrado minha viagem de ida. Assim, as fotos que estou postando junto a este relato foram as únicas e clicadas na volta.





Ainda na ida, ao parar num posto próximo a cidade de Corbélia/PR, encontrei uma réplica de moto feita em madeira, estilo “custom”. E parecia madeira nobre, tipo mogno envernizado. Foi amor à primeira vista. Vejam fotos dela logo abaixo. Amei aquela miniatura de moto, mesmo quebrada. É isso mesmo, estava quebrada. O gerente disse que alguém deve ter derrubado da prateleira. Lógico que isso me oportunizou pechinchar e, após negociações, paguei R$ 50, enquanto o preço normal era R$ 130, e ainda no cartão de crédito. Pedi ao gerente que a guardasse para mim, pois pegaria na volta, que seria já na segunda-feira. Presumi que seria difícil de ajeitá-la na bagagem. Logo imaginei se encontraria algum artesão da madeira em Foz do Iguaçu para consertar a moto e quanto custaria. Bom, final da história, paguei mais R$ 120 para consertar. Custo total de R$ 170. Mas valeu a pena, pois ficou linda e eu estou “curtindo” muito minha miniatura de custom, já que não encontro meu sonho de consumo em miniatura, ou seja, a big-trail Suzuki VStrom 650.


Lógico que não avisei minha mãe que iria de moto. Como a maioria das mães, a minha preocupa-se em excesso e também demoniza as motos. Não é preciso dizer que quando comprei a moto, ouvi um sermão daqueles. Bom, cheguei por volta das 19hs e o porteiro do edifício abriu o portão sem interfonar para o apartamento dela, pois já me conhece. Deixei a moto na vaga numerada da garagem dela e subi com a minha mochila nas costas. Aquele abraço gostoso, jantar maravilhoso de mãe. Tudo ótimo. Antes de dormir, pensei: se minha mãe acordar amanhã antes de mim, descer na garagem e ver uma moto estranha ocupando a vaga sem autorização dela, ela vai brigar com o porteiro e vai ser um fuzuê danado. É melhor eu contar logo. Respirei fundo, me enchi de coragem e contei: ela me fulminou com aquele olhar de reprovação, girou a cabeça de um lado para o outro, várias vezes, e disse: éhh, você não tem mais jeito, tá perdido...e depois de um tempinho ouvindo minha mãe falar, ela finaliza citando aquele caso do filho da amiga dela que até hoje está na cadeira de rodas por causa de acidente com moto. Fazendo uma pequena pausa para filosofar, penso que essa citação dela tem um pouco da dualidade entre os conceitos de liberdade e segurança, que são inversamente proporcionais entre si, ou seja, se você tem mais de um, terá menos do outro e vice-versa. Usando exemplos extremos em prol da didática do raciocínio, você tem, de um lado, aquele sujeito que vive dentro de casa, em completa segurança, sem correr riscos, vendo o mundo acontecer pela televisão, viajando somente através da leitura ou ainda navegando exclusivamente no mundo virtual da internet  e, de outro lado,  aquele sujeito cuja opinião ou comportamento é conforme seu livre arbítrio e quase sempre não está com a maioria, que ousa ser diferente, que sente medo mas o enfrenta, que desafia o desconhecido, mas o faz com planejamento e inteligência, que não se arrisca desnecessariamente e que vai ver e sentir o mundo como ele é (lembrei-me agora do grande Amyr Klink). O mais difícil talvez seja viver dentro de um equilíbrio entre liberdade e segurança. Acho que cada um deve refletir sobre isso para fazer uma correção de rumo na vida, caso necessário. Pois, triste é a situação daquele que, ao fim da vida, já sem saúde nem motivação para viver, decreta para si mesmo: Ah, se eu tivesse minha vida de volta, trataria de viajar mais, de sair de casa sem levar guarda-chuva, de cometer mais erros, de subir mais montanhas, de tomar mais sorvete e etc, etc. Existe um poema, falsamente atribuído ao escritor argentino Jorge Luis Borges, que versa sobre isso. Talvez um dia eu escreva um pouco sobre esse dualidade que mencionei. Nossa, que filosofada hein ! Voltando do “intervalo”, plim.. plim. Tem aquele ditado que diz que mãe é tudo igual, só muda o endereço. Mas se ela fosse diferente, talvez eu não a amasse tanto assim.
Segunda-feira, dia 16, na volta, já mais confiante, pilotei entre 120 e 140 km/h, o máximo que a “Fazerzinha” pode desenvolver. “Enrolei o cabo”, como a galera do nosso meio costuma dizer.  Me debruçava constantemente sobre o tanque da moto para evitar ter de lutar todo o tempo contra o vento, já que a moto não tem a bolha quebra vento. A luta constante contra o vento cansa um pouco depois de horas pilotando. Debruçar sobre o tanque evita também aquele tranco forte que o vento te dá no peito ao cruzar com veículos de grande porte, ônibus ou caminhão. Esse tipo de macete, só pegando a estrada para saber. Saí de Prudente por volta das 8hs, mesmo horário da ida, mas cheguei bem mais cedo, ou seja, as 16hs já estava em Foz, devido a maior velocidade. Dia lindo, sem uma gota de chuva, parei no Posto Madeira, situado a cerca de 130 km de Cascavel, sentido Maringá, onde fiz as fotos. Posto simpático, que recomendo e que vem atraindo mais e mais viajantes.
Nesta viagem, confesso que não curti o caminho em si como deveria. Acho que, pelo fato de ser a primeira viagem, cercada de preocupação e ansiedade, isso me roubou um pouco do prazer de viajar de moto. Some-se a isso que a Fazer 250, por ser uma moto de uso urbano, é inadequada e desconfortável para muitas horas de estrada. Por outro lado, porém, devo dizer que é uma moto super confiável e “pau pra toda obra”.

10 comentários:

  1. Como diria Indiana Jones: "Se quer ser um bom historiador, saia da biblioteca".
    Detalhe para quem não conhece essa figura (o blogueiro: A citada "minha primeira viagem de moto" continua sendo a única. Desculpa, huahauhauah, não resisti. Porém nossa viagem de moto pelo litoral brasileiro ou até o deserto do atacama ou, quem sabe, até o alasca, não tardará a acontecer...

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  2. Meu Deus... Esse não é mais o meu padrinho "comportado" hahahaha... Motociclista agora... hahahahahaha

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  3. Se Deus permitir e me der saúde, ainda vou relatar muitas viagens pelo litoral ou deserto do Atacama e muitos outros lugares e, se for com voce Jean, será muito melhor.Abraço.

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    1. O quê vai acontecer agora em Dezembro de 2014!!! Tamujunto!!!

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    2. Grande MM, vai acontecer minha e nossa tão sonhada viagem de moto ao Deserto do Atacama....expectativas a mil por hora......planejando.................equipando a motoca...........sonhando com a belas paisagens....isso aí....... Tamujunto !!!! abração...

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  4. Querido estou chocada com sua modernidade
    Mas te amo mesmo assim
    Prepare-se para a chegada de sua mãe ;agora ou ela te deserda ou interdita.mana

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  5. Também te amo maninha. Mas vamos apostar que a mãe vai gostar? Beijo.

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  6. Sim Bruno, aliás um feliz motociclista. Muito bom falar contigo e ver comentário seu. Como achou meu blog ? Abração.

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  7. Parabéns pelo blog Mitiura, boas musicas, boas dicas, bons textos. Vou acompanhar a viagem pelo Atacama, já coloquei como favorito. haha. Boa sorte, abraço.

    Felipe/Materias DPF FIG

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  8. Essa é a primeira postagem de viagem de mono em nosso blog... muito showww o seu post!!!

    http://www.relatodeviagem.com/2017/05/de-sao-paulo-ao-atacama-ida-e-volta-em-duas-rodas/

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