terça-feira, 12 de agosto de 2014

Aniversário do blog "Viagens de motocicleta" - 2 anos

Estou satisfeito e feliz com o segundo aniversário do blog.

É uma das coisas que me dá prazer. Há coisas na vida que temos que fazer por obrigação ou por necessidade.
Escrever no blog, procurando deixá-lo cada vez melhor é um prazer e uma tentativa de prestar um serviço àqueles que querem se aventurar de moto pelas estradas desse Brasil e dos nossos vizinhos sulamericanos.

Na verdade, retribuir um pouco dos muitos relatos e dicas que usufrui na internet de outros motociclistas que já trilharam muitas estradas.

E nada melhor para comemorar que uma foto com alguns amigos:


E a próxima viagem já está engatilhada: Deserto do Atacama, no Chile, pelo Paso Jama e Paso São Francisco, em dezembro/14 e janeiro/15.












Que Deus nos proteja, principalmente enquanto estivermos sobre as nossas queridinhas. 

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Minha homenagem ao mestre e escritor Rubem Alves

Apesar de relatar aqui minhas viagens de motocicleta, não posso deixar de comentar a morte do mestre Rubem Alves.

Neste mês de julho, o Brasil perdeu também outros dois ícones da literatura brasileira, que foram Ariano Vilar Suassuna, escritor, poeta e dramaturgo e João Ubaldo Ribeiro, romancista e jornalista. Infelizmente, e declaro isso com uma certa vergonha, não conheço a obra deles.

Quero prestar a Rubem Alves minha singela homenagem ao publicar alguns pequenos trechos de algumas de suas crônicas, aquelas de que mais gostei.
Eu conheci uma pequena parte de sua obra a mais ou menos um ano, através de minha mulher Helen.
Desde então, não parei mais de apreciar seus livros e agora que ele se foi, me sinto triste, mesmo sem tê-lo conhecido pessoalmente.

Rubem Alves nasceu em 15 de setembro de 1933.
Triste, entre outros motivos, porquê passei a apreciar suas maravilhosas crônicas todas as noites antes de deitar e agora nós o perdemos. Perdemos sua inteligência, seu poder criativo, sua sensibilidade, sua habilidade em tricotar as palavras. Perdemos um ser humano que educou e elevou os seus sentidos ao mais alto nível. A literatura brasileira ficou mais pobre.
Mas Rubem Alves pode descansar em paz, pois cumpriu uma importante missão. Veja o que ele escreveu numa de suas crônicas:
"Tudo que escrevo é uma semente. Depois que eu me for, elas ficarão. Quem sabe germinarão e ajudarão a transformar a vida das pessoas".

Minha vida já foi transformada por sua arte, por sua obra. E tenho certeza ajudarão a mudar a vida de muitas pessoas. Rubem Alves é lido não só no Brasil, mas também no exterior. Além de psicanalista, filósofo e teólogo, ele também foi educador. Seus escritos e suas mensagens influenciarão gerações, por isso Rubem Alves nunca saberá quando sua influência cessará. Acho que essa é a missão mais nobre da educação.

Rubem Alves escreveu livros sobre assuntos religiosos, educacionais, existenciais e infantis. Já havia lido muitos livros, mas nunca sob a forma de crônicas. Rubem Alves dizia que não conseguia escrever um livro de duzentas páginas com uma única estória, com início, meio e fim. Assim, ele se sentia à vontade para escrever sobre os mais variados temas da vida (amizade, amor, política, religião, velhice, sabedoria, jardins, bichos, morte, tristeza, alegria e etc) de forma simples e rápida, dispensando a cada tema cerca de três a cinco páginas. É como um grande vitral, dividido em pequenos retalhos de vidro que compõe o conjunto. Cada retalho, cada pedacinho é uma de suas reflexões, uma de suas crônicas.

Mineiro de Boa Esperança - MG

Assim, por exemplo, o livro que ora tenho em mãos "O RETORNO E TERNO", num total de 173 páginas, contém 38 crônicas.

Por isso, acho que seus livros tem uma característica muito interessante. Não são livros que, uma vez lidos de cabo a rabo, são consumidos totalmente e você os esquece. Na minha opinião, são livros para se manter no criado-mudo, livros de cabeceira mesmo, para você ler e reler. E a cada releitura você descobre um novo sentido para as palavras.



Sobre a morte, Rubem Alves escreveu várias crônicas. Do livro citado acima, pág 115, a crônica "Tempo de Morrer" pode ser resumida assim:
Diante da pergunta de uma repórter: "Que é aquilo de que você mais tem medo?"
E ele responde: (...) "Aquilo de que mais tenho medo é que obriguem a viver quando meu corpo só deseja morrer...". "Deram o nome de 'recursos heróicos' à parafernália tecnológica que se usa para manter vivo o corpo que só deseja morrer..."
(...)"Pensei nos Direitos Humanos e me perguntei se alguma previsão teria sido feita no sentido de se proteger o direito de se morrer com dignidade. Porque morrer com dignidade deve ser um direito garantido a todos aqueles que vivem. A morte é parte da vida, o último gesto que se faz, e é indigno que este direito seja retirado de alguém...".
(...)"Não, não quero 'recursos heróicos'. Só quero que a dor não me contorça para poder ouvir um último poema, para ouvir uma última sonata. Somente assim o adeus ficará coisa doce, manifestação da vida no seu último momento, e o vazio que se segue se encherá da doce nostalgia que tem o nome de saudade...É preciso reaprender a sabedoria sagrada: se há um tempo de nascer, há também um tempo de morrer. Que o último momento seja belo como um pôr do sol, longe do frio elétrico-metálico das máquinas..."

Rubem Alves, apreciador de música clássica.
Em outro livro chamado "Ostra feliz não faz pérola", ele conta que gostaria de ser cremado:
"Vou ser cremado por não gostar de lugares fechados. As cinzas podem ser soltas ao vento ou colocadas como adubo na raiz de uma árvore. Assim posso virar nuvem ou flor.(...)"
 
Conforme carta de Rubem Alves aos filhos, as cinzas devem ser despejadas aos pés de um ipê amarelo.
Um trecho da carta de Rubem Alves:

“Sou grato pela minha vida. Não terei últimas palavras a dizer. As que tinha para dizer, disse durante a minha vida. Recebi muito. Fui muito amado. Tive muitos amigos. Plantei árvores, fiz jardins. Construí fontes, escrevi livros. Tive filhos, viajei, experimentei a beleza, lutei pelos meus sonhos. Que mais pode um homem desejar? Procurei fazer aquilo que meu coração pedia.”

Na contra-capa de "O retorno e terno" lê-se:

"O escritor não é alguém que vê coisas que ninguém mais vê. O que ele faz é simplesmente iluminar com os seus olhos aquilo que todos veem sem se dar conta disso. E o que se espera é que as pessoas tenham aquela experiência a que os filósofos Zen dão o nome de "sartori": a abertura de um terceiro olho, para que o mundo já conhecido seja de novo conhecido como nunca o foi."

Já li livros de auto-ajuda, de ficção, romances e etc. Mas ler Rubem Alves para mim está sendo uma experiência única, porque ele ilumina o nosso cotidiano real ao falar sobre amizade, vida, morte, alegria e etc. Ele decifra com a sensibilidade própria de um poeta aquilo que não vemos e pinta com palavras as tantas cenas reais do nosso dia-a-dia. 

Para mim, aquele que é iluminado pelas palavras de Rubem Alves começa a vivenciar a abertura de um "terceiro olho".

"...e o fim de nossa viagem será chegar ao lugar de onde partimos, para que aquele mundo já conhecido seja de novo conhecido como nunca o foi." T.S. Eliot (com as palavras de Rubem Alves).
Rubem Alves faleceu em 19 de julho de 2014.

Com a certeza da missão cumprida, descanse em paz querido mestre.
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Abaixo, o que algumas pessoas pensam de Rubem Alves:

"Ao lermos este filósofo, somos desafiados a desenvolver um "terceiro olho" e desaprendermos toda uma forma de educar que acreditávamos ser a ideal e que, no entanto, provoca tanto sofrimento e enfado aos alunos."
Reuber Gerbassi Scofano


"Um romântico alegre, romântico de olhos inquietos. Seus textos nos chamam, falam de amores que nos acompanham."
Antônio Joaquim Severino


"Quem é Rubem Alves?
Conheço um pouco do amigo Rubem Alves e sei que ele:
-ama a simplicidade;
- ama as estórias;
- ama a ociosidade criativa;
- ama os brinquedos e as ferramentas;
- ama a vida, a beleza, a música, a poesia, as coisas que dão alegria;
- ama as coisas que dão alegria;
- ama a natureza e a reverência pela vida;
- ama a educação como fonte de esperança e transformação;
- ama a libertação ecumênica e a busca de uma nova humanidade;
- ama todas as pessoas, mas tem um carinho muito especial pelos alunos e professores;
Rubem Alves veio ao nosso planetinha Terra para amar!
Pelo mesmo motivo é amado por milhões de pessoas que foram tocadas pela sua mensagem de amor.
Meu querido amigo é uma “lenda viva”!!!!"
Prof. Samuel Ramos Lago