Motos em Artigos

Gosto muito dos textos abaixo, por isso os selecionei para compartilhar com voces:


Desabafo por um tempo perdido - Fernando Drummond - São José dos Campos - SP
Reencontrando o prazer da pilotagem - Nenad Djordjevic, campeão brasileiro de motovelocidade e piloto de testes.
Atitude mental - Nenad Djordjevic, campeão brasileiro de motovelocidade e piloto de testes.
Porquê viajar ? - Do blog do www.flaviomotoviagens.blogspot.com.br

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Acho esse texto humilde, franco, sereno, escrito de coração e mente aberta e todas as vezes que o leio, me emociono..............................Por isso, eu o reproduzo aqui. O autor está no final.

Desabafo por um tempo perdido
(escrito por viagemdemoto.com publicado em artigos).

Estranho personagem, esse tal de motociclista. Difícil crer que seja possível preferir o desconforto de uma motocicleta, onde se fica instavelmente instalado sobre um banquinho minúsculo, tendo que fazer peripécias para manter o equilíbrio e torcendo para que não haja areia na estrada.

Como podem achar bom transportar o passageiro, dito garupa, sem nenhum conforto ou segurança, forçando o coitado a agarrar-se à pança do motociclista, sujeitando ambos a toda sorte de desconfortos, como chuva, ou mesmo aquela “ducha” de água suja jogada pelo carro que passa sobre a poça ao lado, ou de ficarem inalando aquele malcheiroso escapamento dos caminhões em uma avenida movimentada como a marginal Tietê, por exemplo, sem falar da necessidade de se utilizar capas, casacos e capacetes, mesmo naqueles dias de calor intenso.

Isso tudo enquanto convivemos numa época em que os automóveis nos oferecem toda sorte de confortos e itens de segurança. Ar-condicionado, que permite que você chegue ao trabalho sem estar fedendo e suado; “air bags”, barras laterais, cintos de três pontos, etc., que conferem ao passageiro uma segurança mais do que necessária; som ambiente; possibilidade de conversar com os passageiros (os passageiros...) sem ter que gritar e assim por diante.

Intrigante personagem, esse tal de motociclista.

Apesar de tudo o que disse acima, vejo sempre em seus rostos um estranho e particular sorriso, que não me lembro de haver esboçado quando em meu carro, mesmo gozando de todas as facilidades de que ele dispõe.

Passei, então, a prestar um pouco mais de atenção e percebi que, durante minhas viagens, motociclistas, independente de que máquinas possuíssem, cumprimentavam-se uns aos outros, apesar de aparentemente jamais terem se visto antes daquele fugaz momento, quando se cruzaram em uma dessas estradas da vida.

Esquisito...

Prestei mais atenção e descobri que eles freqüentemente se uniam e reuniam, como se fossem amigos de longa data, daqueles que temos tão poucos e de quem gostamos tanto.

Senti a solidariedade que os une. Vi também que, por baixo de muitas daquelas roupas de couro pesadas, faixas na cabeça, luvas, botas, correntes e caveiras, havia pessoas de todos os tipos, incluindo médicos, juízes, advogados, militares, etc. que, naquele momento, em nada faziam lembrar os sisudos, formais e irrepreensíveis profissionais que eram no seu dia a dia. Descobri até alguns colegas, a quem jamais imaginei ver paramentados tão estranhamente.

Muito esquisito...

Ao conversar com alguns deles, ouvi dos indizíveis prazeres de se “ganhar a estrada” sobre duas rodas; sobre a sensação deliciosa de se fazer novos amigos por onde se passa; da alegria da redescoberta do prazer da aventura, independente da idade; e da possibilidade de se ser livre e alegre, rompendo barreiras que existem apenas e tão somente em nossas mentes tão acostumadas à mediocridade.

Vi, ouvi e meditei sobre o assunto... mudei minha vida...

Maravilhoso personagem, esse tal de motociclista.

Muitas motos eu tive, mas jamais fui um verdadeiro motociclista, erro que, em tempo, trato agora de desfazer.

Mais que uma nova moto, a moto dos meus sonhos.

Mais que apenas uma moto, o rompimento dos grilhões que a mim impunham o medo e o preconceito e que por tanto tempo me impediram de desfrutar de tantas aventuras e amizades.

Deus sabe o tempo que perdi e as experiências que deixei de vivenciar.

Se antes olhava-os com estranheza, mesmo sendo proprietário de uma moto (mas não um motociclista), vejo-os agora com profunda admiração e, quando não estou junto, com uma deliciosa pontinha de inveja.

O interessante, é que conheço pessoas que jamais possuíram moto, mas que estão em perfeita sintonia com o ideal motociclista. Algumas chegam até mesmo a participar de encontros e listas de discussão, não que isto seja imprescindível ou importante. O que importa é a filosofia envolvida.

Hoje, minha esposa e eu, montados em nossos sonhos, planejamos, ainda timidamente, lances cada vez maiores, sempre dispostos a encontrar novos velhos amigos, que certamente nos acolherão de braços abertos.

Talvez, com um pouco de sorte, encontremos algum motorista que, em seu automóvel, note e ache estranho aquele personagem que, passando em uma motocicleta, com o vento no rosto, ainda que sob chuva ou frio, mostre-se alheio a tudo e feliz, exibindo um largo e incompreensível sorriso estampado no rosto.

Quem sabe ganhemos, então, mais um irmão motociclista para o nosso grupo.

Fernando Drummond
São José dos Campos-SP


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Reencontrando o prazer da pilotagem.

Além da velocidade, há outras formas de se deliciar com uma moto.

A escolha do tema desta edição foi motivada por um evento infeliz ocorrido no último mês – mais um amigo “subiu para o andar de cima” de maneira prematura e infeliz. Mais um que abusou da sorte em lugar e hora inapropriados – mais um, entre tantos, que achou que certas coisas “ só acontecem com os outros” – mais um que permitiu que a adrenalina dominasse o bom senso, tendo que pagar o preço...

Quem gosta da velocidade, adora a sensação da descarga de adrenalina que ela provoca. É viciante ! É o tipo de coisa que, uma vez descoberta, é difícil abandonar. Parece que toma integralmente seu corpo e sua mente e a única coisa existente é um sentimento de “quero mais e mais”. Não notar essa transformação física e psicológica é um terrível erro, desses que se pagam com a vida. A sensação é a de se estar drogado com qualquer substância viciante, sendo a única coisa importante acelerar mais.

Ao longo dos anos, convivendo com as perdas ao meu redor – sim, de pessoas conhecidas, não mais anônimos de quem se ouve falar – fui cada vez mais tomado por essa latente necessidade de gritar a plenos pulmões: “mas por quê ?” Aos poucos, vou descobrindo que é da nossa natureza esse comportamento infeliz – e é perfeitamente compreensível: afinal, é bom demais! É gostoso poder exercer o controle sobre uma máquina capaz de nos levar a velocidades extremas, muito maiores àquelas para as quais nosso corpo e mente estão preparados, do ponto de vista evolutivo.

Mas, mesmo sendo “ultra-mega-hiper-gostoso”, outros aspectos tem que ser levados em conta – afinal, não nutro um irresistível desejo de morrer. Além do prazer oferecido pela velocidade e controle do equipamento, tenho outros aspectos da vida que também são fonte de prazer e satisfação. E são eles que, de certa forma, contém meus abusos e excessos. Quanto mais me conheço e presto atenção à maneira que me comporto, mais noto que apenas as outras formas de satisfação não são suficientes para conter esse ímpeto de acelerar. É preciso mais.

Descobri que o ato de focar na qualidade da pilotagem que estou executando no momento modificou ligeiramente essa tendência de só virar o da direita. Prestando atenção em como me coloco sobre a moto, onde encaixo os pés,  que ângulo minhas mãos fazem com as manoplas, para onde estou olhando, que pressão exerço no guidão e tantos outros aspectos da pilotagem, me permito obter mesmo uma mudança comportamental, uma vez que a atenção a todos esses aspectos demanda tempo, impondo uma diminuição natural da velocidade. Notei que fazer as coisas com perfeição no comando de uma moto também pode ser uma fonte de prazer – talvez não tão enfática quanto a velocidade, mas, com certeza, mais saudável.

Hoje, quando sento em uma moto, seja profissionalmente ou em momento de lazer, me preocupo em dar bastante espaço a esse sentimento de busca pela perfeição na pilotagem, mesmo sendo ela utópica. Ao procurar fazer todos os movimentos de maneira suave, precisa, com exata amplitude, exerço a atenção e, principalmente, docilidade na operação de todos os comandos, Busco obter o máximo em suavidade no movimento, entendendo que ela é representante oficial de um centro de gravidade estável, derivando em um objeto dócil e previsível sendo comandado.

Dou muita ênfase à qualidade da visão que coleto a cada instante – olhar bastante à frente permite que se tenha condições de julgar com melhor qualidade as situações com as quais terei de interagir, pois ganhei tempo para isso.  Busco, a todo instante, maior “feeling” do comportamento dos pneus, dos freios, da ciclística. Levo a moto para inclinações desejadas com compenetração, seriedade, propósito. Tento sentir as particularidades do modelo, suas reações, suas respostas aos meus comandos. Descobri, nessa mudança de foco, uma inesgotável fonte de satisfação, pois recebo em troca um movimento suave, totalmente na medida do que preciso e sem ter que “tirar suquinho” do equipamento.

Mas o poder da velocidade e a pressão que exerce sobre a psique é grande. Por vezes, mesmo cercando-se de todos os cuidados e focando na plena intenção de voltar inteirinho para casa, abusos acontecem. Outra medida eficaz que encontrei quando todo o resto falha é me lembrar das pessoas amigas que partiram e em que condições se foram. Ao recordar de seus rostos, sorrisos e expressões – até em seu leito de morte -, sou tomado por uma irresistível vontade de desacelerar. É um verdadeiro desestimulante. O exato “Viagra” ao contrário.

Espero que você, caro leitor, que tenha se identificado com esse sentimento, procure também o controle das próprias ações, assim como procura o controle da máquina. Não permite que aqueles que o amam tenham que sofrer uma perda por conta de algo que você poderia ter controlado – afinal de contas, quem manda em sua vida?

Revista Moto Adventure n. 120 – Artigo de Nenad Djordjevic, campeão brasileiro de motovelocidade, piloto de testes e instrutor do curso de pilotagem Performance Professional Riding, para motociclistas. Perguntas ou sugestões para essa seção devem ser endereçadas para: revista@motoadventure.com.br Assunto: Performance. Veja mais informações no blog do autor: HTTP://cursodepilotagem.blogspot.com.

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Atitude Mental.

Ter uma atitude mental correta ajuda o motociclista a se inserir no meio em que opera com maior segurança

Alguns podem questionar o que a atitude mental tem a ver com pilotagem, mas basta observar atentamente como a pilotagem se processa para concluir sua relevância – antes de tudo, coletamos as informações a respeito do meio em que operamos através da visão e audição, interpretamos essas informações, e no final, trazemos alguma forma de solução para a interação. Conclui-se então, que a pilotagem em si é essencialmente um processo intelectual, onde a parte prática, a execução de manobras, nada mais é que a conclusão de um pensamento previamente elaborado.

Um motociclista está na maior parte do tempo operando em um meio hostil – os veículos ao seu redor são maiores e oferecem maior proteção aos seus usuários. Mais do que isso, a moto permite maior desenvoltura frente a maioria dos veículos com que interage, colocando-a constantemente em condições de ultrapassagem – além de maior risco. Essas características determinam que o usuário de uma motocicleta tem de estar totalmente focado em como procede com essa interação, porque lhe cabe oferecer segurança para si e para os demais, uma vez que está na maior parte do tempo interagindo de forma ativa com o trânsito, e não de forma passiva. Agora fica mais nítida a idéia de que um motociclista precisa ter uma atitude mental pro-ativa – uma vez que suas decisões afetarão a sua segurança, bem como a dos demais.

Serenidade
Todas as decisões tomadas por um piloto de moto devem ser tomadas de forma ponderada – com boa análise de todas as possibilidades relativas a uma situação. Para que isso seja exequível, ele ou ela não pode ter sua mente invadida por pensamentos alheios ao processo da pilotagem. Uma discussão familiar, um problema financeiro ou um mal estar físico, são exemplos de coisas externas que podem facilmente tomar a mente de qualquer pessoa. Um piloto consciente, tem de reconhecer essa possibilidade e criar os mecanismos necessários para impedir que aconteça. O pensamento que deve prevalecer no momento de iniciar a pilotagem é semelhante a esse:

"Nada é mais importante nesse momento que eu chegar a meu destino em segurança. Absolutamente nada. Todo o resto é secundário, e será tratado quando for a hora."

Uma frase como essa deve ecoar na mente do motociclista sempre que notar uma dispersão – pensamento que nada tem com o que está sendo executado naquele instante. Tente repetí-la mentalmente algumas vezes, para que seja fácil memorizar, e de fato usar, sempre que achar que sua atenção está indo para situações que não fazem parte da pilotagem daquele momento.

Iniciantes
Os pilotos iniciantes estão com suas mentes cheias de dúvidas e incertezas. As metas que estabelecem para si quanto a distância a ser percorrida ou o tempo que pilotarão, devem levar em conta suas aptidões e conhecimento do que estão se propondo a fazer. O ideal é que na fase inicial, o candidato a piloto estabeleça metas que se sinta razoavelmente confortável para executar. Digo razoavelmente, porque deve haver uma pequena incerteza para poder promover alguma evolução – no entanto, não pode ser tão crítica a ponto de comprometer a segurança. Se existem dúvidas quanto a algum procedimento com impacto na segurança, essas devem ser tratadas antes de se tentar a execução durante a pilotagem.
Pensamentos que incluam durante a pilotagem as palavras "acho", "talvez", ou semelhantes, devem ser afastados a todo custo – um motociclista tem poucas chances de errar. Deve ter bastante certeza do que está por vir, e as dificuldades que encontrará, racionalizando todos os possíveis problemas antes mesmo de acontecerem. Para esses futuros pilotos, o pensamento apropriado deve ser semelhante a esse:

"Vou dar o melhor de mim reconhecendo cuidadosamente minhas limitações. Ainda estou aprendendo, e quero continuar assim – sempre aprendendo mais."

Experientes
Pilotos experientes estão mais sujeitos a toda forma de incidentes, pois frequentemente, subjulgam as situações e os procedimentos apropriados, superestimando as próprias capacidades, sem base lógica consistente. Daí se verem envolvidos em situações difíceis, com frequência muito maior que um iniciante.
O aparente domínio do equipamento, acaba impulsionando esse piloto a considerar também estar no controle das situações à seu redor – mas a realidade é que há um limite no que pode ser controlado pelo piloto, e é absolutamente vital que haja o reconhecimento de que nem tudo está sob seu domínio, exigindo a previsão de uma margem de segurança.
Esses pilotos acabam se deixando influenciar por palavras que traduzem alguma forma de obrigatoriedade, como "preciso", "tenho que", permitindo que necessidades externas dominiem sua razão e o objetivo principal – voltar inteiro para casa. Além do pensamento inicial relativo a serenidade, esses pilotos devem mentalizar algo que lhes permita recolocar o foco nos procedimentos em execução:

"Os melhores pilotos do mundo erram – vou criar mais tempo para rever cada atitude que tomo, para minimizar essa possibilidade."

Ego
O ego de um motociclista é normalmente um pouco mais inflado do que o da maioria não pertencente a essa categoria. Todos nós acabamos em alguma instância vencidos pelo desejo de externar nosso conhecimento, habilidade ou maestria da moto. As exibições de ousadia frequentemente tem platéia, impulsionando ainda mais o imaturo, contra a prudência. Para tentar derrotar esses pensamentos estranhos, o piloto consciente deve tentar colocar o foco de seu pensamento em outra forma de recompensa:

"Vou pilotar somente para o meu prazer. O que os outros acham de minha pilotagem não é importante."

Outros pensamentos
Dominar nossos sentidos, percepções e habilidades é tarefa das mais complicadas – exige auto-conhecimento e postura madura que não estão presentes em todas as fazes de nossas vidas. Para os mais impetuosos é tarefa árdua e sistemática – tem de se auto-impor muita disciplina constantemente. Se você é assim, aí vão alguns pensamentos que me ajudaram a controlar minhas próprias ações:

"O prazer da pilotagem está na precisão, e não na ousadia."
"Quanto mais suave sou com o equipamento, mais suave é a sua resposta."
"Competir tem hora e local apropriado – cabe agora?"

Esse é um pequeno vislumbre da complexidade presente na pilotagem motociclística – considere suas implicações e domine seus pensamentos. Não permita que agentes externos e alheios ao ato de pilotar interfiram nesse processo. Apesar de pilotar uma moto trazer emoções difíceis de descrever, temos que mantê-las sob controle em prol da segurança.

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Porquê viajar ?

Quando eu era adolescente, vi uma fotografia de Mário de Andrade sobre os trilhos da estrada de ferro Madeira-Mamoré - também conhecida como a “Ferrovia do Diabo”. Sua presença foi registrada durante a construção da obra, em plena selva amazônica, no início do século XX. Um empreendimento histórico que ceifou a vida de 6 mil trabalhadores, vitimados por ataques de índios, afogamentos, picadas de cobra e doenças diversas, como malária, febre amarela, beribéri e tuberculose.

Achei curioso aquele fato. Por que um escritor da Paulicéia estaria tão longe de casa, em local tão ermo? Quantos dias ou semanas teria ele gastado para chegar ali? Por qual razão?

Naquela época, eu mal sabia que Mário de Andrade não era uma pessoa comum. Seus livros e estórias nasciam do contato profundo com o Brasil Escondido. Ele havia decidido mergulhar nas entranhas de seu país e de seu povo. Sua arte dependia disso! Estar ali, no meio do nada, era uma ginástica aparentemente corriqueira para ele. Depois soube que foi por aquelas paragens amazônicas que encontrou inspiração e conteúdo para sua maior obra: Macunaíma.

À medida que fui crescendo, ganhando maturidade e me apaixonando cada vez mais por literatura, passei a perceber que os chamados escritores de primeira grandeza possuíam, via de regra, essa característica. Escreviam sobre locais, pessoas e sentimentos que conheciam de perto. Não apenas dominavam as letras, mas sabiam se colocar como atores e aprendizes de uma realidade social que poucos imaginavam existir. Essa característica não pertencia apenas a Mário de Andrade, mas a muitos outros escritores que marcaram nossos tempos: Gabriel Garcia Márquez, Neruda, Sábatto, Borges, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, dentre outros. Talvez fosse o exercício de se embrenhar pelas terras esquecidas e pela história de seus países o grande diferencial que os transformou em homens inesquecíveis para a humanidade. Sabiam bem do que falavam. As emoções e os cenários de suas estórias estavam gravados (também) em suas próprias peles.

Os grandes homens e poetas são, em sua imensa maioria, eternos viajantes. Não viajantes comuns, mas exploradores. Uma verdadeira viagem tem que ter essa conotação: explorar, superar limites, desejar o novo. Buda, Cristo, Francisco de Assis, Gandhi e Paulo de Tarso eram viajantes solitários, exploradores de almas, e gastaram muita sola de calçado na caminhada da iluminação.

VIAJAR, sob todos esses aspectos, tornou-se essencial para mim, para minha própria formação intelectual e espiritual. Foi o meio que utilizei para amadurecer e fortalecer meu espírito e para experimentar um tipo de felicidade que ainda não conhecia. De falar com propriedade das coisas que vi, que senti e que presenciei. Creio que o verdadeiro encontro interior para alguns, como eu, precisa passar pela experiência do ir para longe e do voltar feliz para casa. Do desvendar o que existe além da montanha e do rio. Do experimentar diferentes sons, odores e temperaturas. Do contemplar o sol, a chuva ou as estrelas. Do conhecer pessoas simples e do aprender com elas.

Eu, após viajar muito de ônibus, de avião e automóvel, só consegui experimentar um contato profundo comigo mesmo depois que passei a viajar de motocicleta. Sabe-se lá o porquê, mas sempre tentei me justificar acreditando que pilotar uma moto por longos períodos de tempo gera um estado mental diferenciado. O corpo, em contato direto com o ambiente, parece estar sob as carícias da natureza. A mente relaxa, mas os reflexos ficam acesos e prontos para dar comandos rápidos aos membros. Em outra oportunidade cheguei a comparar esse estado psíquico ao que os antigos monges taoístas chamavam de “encontrar o silêncio no meio da tempestade”. É uma espécie de inebriamento que só acontece quando nos deslocamos em velocidade moderada. Quando se acelera com exagero as emoções são diferentes, decorrem da adrenalina, mas não se atinge essa condição espiritual.

Contudo, não advogo a tese de que a motocicleta é o melhor veículo para todos. Trata-se de uma constatação pessoal. Sei de outros viajantes que vivenciaram emoções idênticas dentro de um jipe, de um veleiro, sobre uma bicicleta ou simplesmente caminhando ou mochilando pelas estradas do mundo.

Quem viaja está sempre construindo algo diferente para suas vidas. Está abrindo seu coração para novos sentimentos e amizades. Está descerrando a mente para novos conhecimentos, os olhos para novos cenários e horizontes. Enfim, compartilhando sua alma com o planeta que o acolhe.
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